TDAH em Adultos: o que você precisa saber
- Jessica Ferreira Vieira de Lacerda
- 14 de jul.
- 3 min de leitura
Embora muitas pessoas ainda associam o TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade) exclusivamente à infância, a condição também se manifesta na vida adulta — e pode impactar diversas áreas, como o trabalho, os estudos, os relacionamentos e o bem-estar emocional.
Neste artigo, vamos entender melhor o que é o TDAH na vida adulta, como ele se manifesta e por que buscar um diagnóstico e tratamento adequados pode fazer toda a diferença na qualidade de vida.
O que é, de fato, o TDAH?
Segundo Russel Barkley, psicólogo clínico, pesquisador e autor do livro “Vencendo o TDAH adulto”, o TDAH é uma condição do neurodesenvolvimento. Isso significa que não é algo que a pessoa "adquire" ao longo da vida por fatores externos ou por falta de esforço. Ele está ligado à forma como o cérebro se desenvolve e funciona — especialmente nas áreas que ajudam a gente a organizar a vida, manter o foco, controlar impulsos e lidar com emoções.
Como o TDAH impacta a vida adulta?
Na idade adulta, o TDAH tende a se apresentar menos por hiperatividade física evidente e mais por dificuldades internas e funcionais, como:
Procrastinação crônica: deixar tarefas importantes para depois, mesmo sabendo das consequências.
Desorganização e esquecimentos: dificuldade em manter rotinas, cumprir prazos ou lembrar compromissos.
Oscilações de humor e impulsividade: agir por impulso ou ter reações intensas a situações cotidianas.
Baixa autoestima: sentimento persistente de frustração por “não conseguir fazer o básico” ou por falhar repetidamente em áreas importantes.
Inquietação mental: mente acelerada, cheia de pensamentos simultâneos, que salta de uma ideia para outra sem pausa.
O TDAH pode interferir em múltiplas áreas da vida. Algumas dificuldades comuns incluem:
Profissional: dificuldade de foco em reuniões, desorganização, problemas para cumprir prazos, mudanças frequentes de emprego.
Acadêmica: bloqueios para iniciar ou terminar cursos, sensação de nunca atingir o próprio potencial.
Financeira: impulsividade em compras, dificuldade em planejar e manter controle financeiro.
Relacionamentos: esquecimentos, interrupções durante conversas, impaciência, mudanças de humor.
Saúde mental: associação com ansiedade, depressão, baixa autoestima e histórico de tentativas frustradas de “dar conta”.
Essas dificuldades não são fruto de “preguiça”, “desorganização” ou “falta de vontade”. Elas têm uma base neurológica que compromete funções executivas importantes.
O que são funções executivas e por que elas são importantes?
Funções executivas são um conjunto de habilidades cognitivas que nos permitem planejar, organizar, tomar decisões, lembrar de informações importantes e controlar impulsos. No TDAH, essas funções ficam prejudicadas, o que faz com que a pessoa tenha mais dificuldade em:
Agir com base em metas futuras, e não apenas por impulsos do momento;
Permanecer em tarefas longas, mesmo quando não são interessantes;
Monitorar o tempo e priorizar atividades;
Regular emoções e comportamentos com mais consistência.
Isso ajuda a entender por que o TDAH não é apenas um transtorno de atenção, mas sim uma dificuldade complexa de autorregulação.
Diagnóstico e tratamento: por onde começar?
O diagnóstico do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é clínico – ou seja, não há um exame de sangue, neuroimagem ou teste único que confirme o transtorno. Ele é feito por um profissional qualificado(a) como médicos psiquiatras, neurologistas e neuropediatras, neuropsicólogos e psicólogos com base em uma avaliação criteriosa do funcionamento da pessoa ao longo da vida.
O processo geralmente considera:
Entrevista clínica estruturada ou semi-estruturada
Histórico de vida e relatos da infância
Avaliação de outras causas e comorbidades
Uso de testes psicológicos, escalas e questionários
O tratamento mais eficaz costuma ser multimodal, ou seja, envolve diferentes estratégias combinadas, como:
Psicoeducação: entender o funcionamento do TDAH é o primeiro passo para lidar melhor com ele.
Psicoterapia: com abordagens cognitivas-comportamentais, que ajudam na autorregulação, organização, manejo emocional e comportamental.
Medicação: em muitos casos, os estimulantes ou outros medicamentos podem ser indicados, sempre com orientação médica.
Estratégias práticas: como uso de agendas, técnicas de gerenciamento do tempo, rotinas estruturadas e apoio profissional.
Por que buscar ajuda pode transformar sua vida
Conhecer o TDAH é, para muitas pessoas, um ponto de virada. Ao entender que essas dificuldades têm um nome, uma explicação e, principalmente, caminhos de cuidado, é possível tirar um peso de culpa pessoal e começar a construir uma relação mais leve consigo mesmo.
Buscar ajuda especializada pode ser o início de uma mudança significativa. O diagnóstico não é um rótulo, mas uma chave que abre possibilidades de compreensão, acolhimento e cuidado.
O TDAH não precisa ser um obstáculo intransponível — com as ferramentas certas, ele pode ser gerenciado com eficácia. E você pode viver uma vida com sentido, conquistas reais e menos sofrimento.





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